quinta-feira, 14 de abril de 2011

Graduação em tecnologia já representa 20% dos cursos superiores no Brasil

MEC aposta que o modelo, voltado à formação de tecnólogos, tende a crescer. Enquanto professora questiona qualidade do ensino

Na última semana, um relatório da OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico) apontou que o Brasil precisa colocar a educação entre suas prioridades. O estudo citou que o País está muito atrás dos mercados desenvolvidos em relação à produtividade do ensino superior.

O próprio MEC (Ministério da Educação e Cultura) admite que, para acompanhar o ritmo de crescimento da economia, o País precisaria rapidamente ampliar o número de pessoas com diploma universitário. “Hoje, cerca de 15% da população entre 18 a 24 anos está inscrita em um curso de ensino superior. Mas precisaríamos dobrar esse número”, afirma Marcelo Machado Feres, coordenador-geral de Regulação da Educação Profissional do MEC.

Um dos caminhos para o aumento de pessoas graduadas no mercado tem ocorrido por meio do estímulo aos cursos superiores de tecnologia, voltados a formar tecnólogos. O principal diferencial em relação à formação tradicional (bacharelado ou licenciatura) é que eles visam capacitar profissionais para áreas específicas, o que reduz o número de aulas obrigatórias e, por consequência, o tempo de duração dos cursos, que passam a ser de apenas dois anos.

“Hoje, temos mais de 5 mil cursos de graduação em tecnologia no Brasil”, informa Feres, lembrando que, em 2000, esse número era de apenas 360 ofertas do mesmo tipo. “Essa modalidade já representa 20% dos cursos de formação superior no País e a expectativa é de que esse número chegue a 1/3”, complementa.

A professora da Faculdade de Engenharia da UEMG (Universidade do Estado de Minas Gerais), Juçana Lopes, considera, no entanto, que a formação de tecnólogos pode levar a um “sucateamento” da educação superior no Brasil. “O tecnólogo recebe diploma. Com isso, ele está habilitado, mas não quer dizer que ele tenha a mesma qualificação de alguém formado em um curso superior tradicional”, pontua, acrescentando: “Não dá para, em dois anos, aprofundar o que seria aprendido em quatro ou cinco anos de bacharelado.”

Juçana também questiona os critérios utilizados pelo MEC para análise da qualidade do ensino universitário, em geral, no País. Ela cita que o atual modelo de avaliação, baseado no Sinaes (Sistema Nacional da Avaliação Superior), se preocupa muito mais com questões quantitativas do que com a qualidade efetiva da formação oferecida aos alunos.

Um dos grandes erros da ferramenta de avaliação, na visão da professora, está no fato de que ela não analisa o desempenho prático dos professores. Assim, por melhor que seja o projeto pedagógico da instituição de ensino, na maior parte das vezes, ele não é aplicado de forma adequada em sala de aula.

O representante do MEC, por sua vez, aponta que o Ministério tem sido bastante rigoroso. Para isso, usa como base a avaliação geral dos cursos de ensino superior, realizada a cada três anos pelo Inep (Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira) - com base no Sinaes. “Todas as instituições que recebem nota 1 e 2 [dentro de uma avaliação que vai até 5] são convocadas a solucionar o problema de forma acelerada”, pontua Marcelo Machado Feres, que acrescenta: “Mas se as questões não forem resolvidas, nós fechamos o curso. E isso acontece com muito mais frequência do que as pessoas imaginam.”

O coordenador do MEC indica ainda que qualquer aluno de ensino superior que detecte algum problema em relação à qualidade de ensino deve apresentar uma denúncia formal ao Ministério que, a partir daí, terá condições de analisar a situação e tomar as medidas necessárias.

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